segunda-feira, 15 de agosto de 2011

"... but it sure feels good to me"

No meio de uma tarde sem grandes expectativas, estava ouvindo música e mexendo em papéis antigos.
Eis que começa a tocar uma música que gostei desde a primeira vez que a ouvi: Right to be wrong


Acho incrível que desde a oitava série eu já sabia que essa música tinha a ver comigo. Com 14 anos eu pensava que com 20 estaria muito resolvida, com meu plano de vida completo. Doce ilusão de pré-adolescente!
Graças a Deus troquei planos por desejos e dúvidas por decisões.
Não quero me gabar por ser a "senhora bem-resolvida", até porque ainda faço muita coisa pelos outros (e só por eles), mas me irrita muito não ter visão de um próximo passo. Isso é o que me faz pensar sempre, planejar o nada (nada = tempo para nada; deixar o tempo passar sem deixar marca alguma; pausa no caos) e até sonhar o absurdo. Sou da opinião de vale mais pensar em qualquer coisa do que não pensar em coisa nenhuma (salvo algumas vezes que nada melhor do que o vazio e o silêncio para viver. Algumas vezes.).
Não ter planos prontos me causou um pouco de desespero, mas o "mistério" do que está por vir, do não-planejado, traz mais do que brilho de novidade. É um incentivo para estar pronto para qualquer coisa, sem que isso implique em se deixar levar.

Quase criança, eu sonhava com uma vida adulta que me permitisse ser livre. Sonhava com não dever satisfações, com uma liberdade que a gente acha que ganha conforme vai envelhecendo, e quando envelhece, vê que se perde muito mais do que se ganha.
Se perde mais tempo, se ganha outras coisas. Viver tem disso.
Mas mesmo perdendo a liberdade que tinha quando podia caminhar sozinha na praia, fazer suco de laranja com beterraba,  comer pão de trigo com leite condensado e se foda o mundo, ganhei consciência. O que é uma vantagem relativa, porque achava realmente bom poder conversar com a Angélica pela televisão sem ninguém achar anormal.
Se eu podia fazer tanta coisa, imaginava que, quando fosse gente grande, poderia sair correndo pelo mundo fazendo o que bem entendesse.

Agora, depois de poucos anos e muita vida, sei que não funciona bem assim.
A gente não tem tudo o que quer. Mas tem a possibilidade de enxergar o que deve ser feito e de desenvolver uma sensibilidade para o que pode dar certo.
"I'm feeling wings though I've never flown". Não é preciso viver tudo e analisar todos os pontos minuciosamente para poder alçar voo.
Tenho todo o direito de usar minha intuição e me sobra arcar com as consequências negativas de vez em quando.
Engulo muitos sapos e é provável que isso aumente dia a dia. Mas cada sapo é decisão minha.
Não saio fazendo o que quero o tempo todo, mas sei que posso. A vida seria totalmente diferente, seria outra, mas continuaria sendo minha.
Com o tempo, adquire-se coragem para mover e consciência para desfazer o movimento - lembrando que apesar de podermos voltar atrás, o que já passou deixou marcas. 
Posso mudar e voltar pro lugar que nunca devia ter saído. Posso só ficar aqui.
Temos permissão desde que demos satisfações e justificativas.
Temos todo o resto se tivermos coragem e se formos suficientemente inteligentes.




p.s.: Falar de coragem depois de ter visto o resultado das ações é fácil. A covardia vem do que ainda não passou.
p.s. 2: Falta do mínimo de coragem e de inteligência é um problema. Eu acho.

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