terça-feira, 15 de janeiro de 2013

O domingo do Wesley

Desde o comecinho da manhã - comecinho pra ele, porque acordou foi com a musiquinha do Esporte Espetacular - Wesley se preparou pra noite de domingo. 
Só faltava o pagode à noite pra completar o último dia do final de semana ensolarado, devidamente aproveitado.
O carro estava ok, a roupa separada. Logo que acordou, se certificou se o nome estava na lista, porque deus o livre pagar o preço salgado que sobe com a temporada. (Por aqui é assim no verão: na tentativa de tirar dinheiro dos gringos, o preço astronômico das coisas é sofrido e pago também por quem não está de férias.) Estava lá, certinho. Só precisava chegar cedo, mas Wesley nem ligava.
Tinha pique pra correr o dia todo e ainda sambar. Chegar cedo era o de menos.
Sabia que teria que olhar pra muita gente de nariz empinado fazendo cara feia quando o olhasse do pé à ponta, fazer o quê? Fazia parte do ambiente aquela gente devidamente uniformizada de salto alto e camiseta de marca (de procedência duvidosa).
Infelizmente, qualidade ainda é vinculada à preço e pra aproveitar uma boa noite, ouvindo uma boa música, teria que dividir o espaço que era da elite, pagando como se fosse da elite. Por isso mesmo ele queria aproveitar.
Se perfumou e tomou seu rumo.
Dançou.
Dançou até aquela música ambiente que toca antes do show começar.
Dançou com propriedade de quem nasceu sabendo, sem nenhum movimento quadrado de quem aprende pra se mostrar.
Não foi encher a cara, muito menos chegar em menininha interesseira. Também não tinha paciência pra esperar que elas ficassem bêbadas pra poder chegar. Foi celebrar o fim de semana e só. Fez do seu jeito, animado e às vezes de olhos fechados pra prestar mais atenção na música.
Enquanto tinha gente se matando por um pedaço de papel que dava direito a subir um degrau e ficar do lado de lá da muretinha, Wesley tinha a pista, no final da noite, quase toda pra si. Tava longe de se parecer  com aquele cara de camisa polo cor-de-rosa que precisava levar alguém (qualquer) pra casa pra fazer valer o que gastou.
Feliz daquele que se diverte porque quer e não porque pagou! 
Indo embora, ao passar no caixa, pagou por duas cervejas mais  o valor da entrada. À vista. Melhor que passar garrafa de champanhe no crédito. Carnê é pra comprar eletrodoméstico, ora essa!, mesmo disfarçado de cartão.
Pegou seu carro, rachou a gasolina com o pessoal e comprou um cachorro-quente pro flanelinha.
Deitou sua cabeça no travesseiro, exausto.
Coisa boa era se sentir cansado de tanto viver.

domingo, 13 de janeiro de 2013

Sol brilhar basta

   No fim de um dia meio agitado ou depois de uma noite com pesadelo, ver o sol é reconfortante.
  Não tem porquê economizar sorriso quando o dia insiste em ficar bonito. Não dá pra ficar braba, não tem como.
  Cara feia, nem com muita fome quando o dia é ensolarado.
  Precisa de muita chuva pra se esquecer do brilho do sol e precisa daqueles de rachar coco pra querer uma chuvinha, pra refrescar.
  Bico, cara amarrada, tristeza no olhar e ruga na testa: tudo sai na luz do sol, é só se deixar alegrar.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Ano Novo

 
Que tipo de preocupação insiste em existir no primeiro dia do ano?
  Até chegar a meia-noite do dia 31 de dezembro, todo mundo fica meio exagerado: profundamente tranquilo ou totalmente ansioso. Pra mim, todo mundo fica com uma ruguinha de preocupação, qualquer que seja o motivo. Réveillon mais ou menos é só mais um dia comum.
  Temos preocupação para que a felicidade não resolva ir embora, e mais, que ela traga suas vizinhas e venham logo morar em nossa rua.
  Há também a preocupação em fazer tudo valer a pena. Nada pode ser desperdiçado, toda experiência tem que ser válida. Somos loucos querendo fazer de tudo memorável, mas, inevitavelmente, vem uma memória mais valiosa e tira o lugar das festas frustradas. Arrumamos guarda-roupa, doamos coisas, somos outros limpos e melhores. Que bonito é ver coisas no começo!
  O início do ano deve ser brilhante. Nem pensar em tapear as falhas, elas devem ser imediatamente corrigidas ou esquecidas de vez. Enfim, o erro não tem lugar num ano-novo. O novo é só acerto.
  Não que não tenhamos direito de errar. Temos como direito, não como dever. Erramos sem querer, mas temos cuidado para não mancharmos o ano-novo tão branquinho.
 Pular ondas, não economizar e soltar fogos para que o barulho espante o mal fazem parte do ritual comum. Para celebrar, agradecer, prometer (principalmente).
  Lá vem um ano no começo. Ainda restam mais de 300 dias para correr atrás do que se quer. Ainda há brilho no olhar, ainda lembramos do barulho dos fogos e vamos continuar assim até chegar agosto, numa segunda-feira temida, implorando por outro ano, porque esse já tem que terminar.