terça-feira, 30 de agosto de 2011

Se pelo menos

Às vezes, só queria poder controlar meus sentimentos, diminuir minhas emoções e cortar minhas sensações.
Não é bem saudade. É algo que vai além na lembrança e dói menos.
A duração das lembranças é absurdamente maior que a dos fatos, mas eles foram tão relevantes que são revividos diariamente em ideias. São revivenciados em cada detalhe que consigo lembrar. Mesmo assim, parece que sempre é acrescentado algo que não aconteceu, mas que queria que tivesse acontecido.
Acho bom parar com isso, pra pelo menos ser mais realista. Voltar a ser como era.
Como era é impossível, verdade.
Se pelo menos eu pudesse não sentir uma vontade absurda de relembrar...
O fato é que eu ainda quero reconstituir e é muito provável que eu vá fazer isso exatamente agora.

Pause na vontade de ver o que vem depois. É disso que preciso.
"Depois" pode nem existir e não é justo comigo sonhar com uma possibilidade.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011



Se é efêmero, eu não sei
Sou tão grata a isso
Que mal posso esperar
por nada
Além da certeza
de ter valido a pena


segunda-feira, 15 de agosto de 2011

"... but it sure feels good to me"

No meio de uma tarde sem grandes expectativas, estava ouvindo música e mexendo em papéis antigos.
Eis que começa a tocar uma música que gostei desde a primeira vez que a ouvi: Right to be wrong


Acho incrível que desde a oitava série eu já sabia que essa música tinha a ver comigo. Com 14 anos eu pensava que com 20 estaria muito resolvida, com meu plano de vida completo. Doce ilusão de pré-adolescente!
Graças a Deus troquei planos por desejos e dúvidas por decisões.
Não quero me gabar por ser a "senhora bem-resolvida", até porque ainda faço muita coisa pelos outros (e só por eles), mas me irrita muito não ter visão de um próximo passo. Isso é o que me faz pensar sempre, planejar o nada (nada = tempo para nada; deixar o tempo passar sem deixar marca alguma; pausa no caos) e até sonhar o absurdo. Sou da opinião de vale mais pensar em qualquer coisa do que não pensar em coisa nenhuma (salvo algumas vezes que nada melhor do que o vazio e o silêncio para viver. Algumas vezes.).
Não ter planos prontos me causou um pouco de desespero, mas o "mistério" do que está por vir, do não-planejado, traz mais do que brilho de novidade. É um incentivo para estar pronto para qualquer coisa, sem que isso implique em se deixar levar.

Quase criança, eu sonhava com uma vida adulta que me permitisse ser livre. Sonhava com não dever satisfações, com uma liberdade que a gente acha que ganha conforme vai envelhecendo, e quando envelhece, vê que se perde muito mais do que se ganha.
Se perde mais tempo, se ganha outras coisas. Viver tem disso.
Mas mesmo perdendo a liberdade que tinha quando podia caminhar sozinha na praia, fazer suco de laranja com beterraba,  comer pão de trigo com leite condensado e se foda o mundo, ganhei consciência. O que é uma vantagem relativa, porque achava realmente bom poder conversar com a Angélica pela televisão sem ninguém achar anormal.
Se eu podia fazer tanta coisa, imaginava que, quando fosse gente grande, poderia sair correndo pelo mundo fazendo o que bem entendesse.

Agora, depois de poucos anos e muita vida, sei que não funciona bem assim.
A gente não tem tudo o que quer. Mas tem a possibilidade de enxergar o que deve ser feito e de desenvolver uma sensibilidade para o que pode dar certo.
"I'm feeling wings though I've never flown". Não é preciso viver tudo e analisar todos os pontos minuciosamente para poder alçar voo.
Tenho todo o direito de usar minha intuição e me sobra arcar com as consequências negativas de vez em quando.
Engulo muitos sapos e é provável que isso aumente dia a dia. Mas cada sapo é decisão minha.
Não saio fazendo o que quero o tempo todo, mas sei que posso. A vida seria totalmente diferente, seria outra, mas continuaria sendo minha.
Com o tempo, adquire-se coragem para mover e consciência para desfazer o movimento - lembrando que apesar de podermos voltar atrás, o que já passou deixou marcas. 
Posso mudar e voltar pro lugar que nunca devia ter saído. Posso só ficar aqui.
Temos permissão desde que demos satisfações e justificativas.
Temos todo o resto se tivermos coragem e se formos suficientemente inteligentes.




p.s.: Falar de coragem depois de ter visto o resultado das ações é fácil. A covardia vem do que ainda não passou.
p.s. 2: Falta do mínimo de coragem e de inteligência é um problema. Eu acho.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Muito (que poderia ser vivido, mas não foi)

Já parei para pensar diversas vezes nas coisas que podem empacar nossa vida, em tudo aquilo que pode nos trazer atraso e aflição, que acabam, cedo ou tarde, se transformando em falta de esperança e desânimo.
Comecei fazendo uma lista de coisas frustrantes, que realmente aconteceram - ou não, como eu vou saber - na minha vida e nas pessoas a minha volta. E meu Deus! Como é desanimador pensar nas coisas que deram errado! Pior que isso é achar que as coisas que nem aconteceram vão ser tão ruins quanto as que passaram.
Esse medo, ou trauma ou seja lá o que for, acaba com qualquer chance de fuga da tristeza.
Uma das coisas que mais me irrita no ser humano é a falta de ação, logo em seguida da ação de impedir, geralmente sem nenhuma justificativa plausível. Simplesmente empacam. Param. Estáticos, numa maré ruim.
O fato de nada durar pra sempre - nem mesmo a vida dura! - serve de escudo pra não se tomar nenhuma decisão. A não-eternidade é algo tão assustador a ponto de interferir nas nossas escolhas. E felizes os que têm só a interferência e não usam a falta do "pra sempre" como algema.

Você acha que a gente perde muita coisa por ingenuidade?
E por medo?
E por excesso de pensamento e falta de impulso?

Não é só um discurso adolescente. Inconsequência pode trazer pequenos benefícios, que podem mudar o rumo de tudo. Se for parar e pensar, não é bom a gente se apaixonar - vamos tentar tirar a paixão do sentido restrito de ligações amorosas/ sexuais, ok. Apaixonados temos nosso juízo comprometido, somos tendenciosos e sofremos pela ausência, o que é totalmente contra qualquer sentido de vida organizada e racional.
Isso porque nada que tente substituir o objeto de apego é suficiente. Viramos crianças, mimadas.
Se apaixonar é mais grave quando é por alguém.
A gente se apaixona por cada detalhe daquela pessoa. Tudo em volta dela tem uma magia inexplicável, um encantamento novo, que prende.
A entrada no mundo da pessoa é uma viagem incrível que a gente não tem vontade que acabe.

Mas acaba.
Nem tudo acaba ruim. E o que não acaba bem pode ter durado bem. O tempo que for.

Vamos economizar na preocupação em se machucar e esbanjar cuidado e coragem nas ações inconsequentes, com pessoas mais incríveis que conhecermos.

Quando a gente gosta mesmo, vira pai e mãe também.
Isso é sobre responsabilidade. Aquela história do Pequeno Príncipe.

Isso não é sobre ficar junto, é sobre ter coragem de sentir.