terça-feira, 26 de dezembro de 2017

"Quanto tempo vive um inseto"

Domingo: olha só aquela minimariposa ali.

Parece que falta assunto, não parece? Parece que a gente já deu o que tinha que dar. Que tem que focar nos assuntos corriqueiros pra poder continuar dando certo.
Mas e esse tom de voz? E esse olhar de desdém? Pra quê isso? A gente não se ama, afinal? Por que agir assim?

Segunda: e aquele inseto continua lá no teto do banheiro.

Já não há mais nós. O problema não é você, sou eu. É por minha culpa que não te amo como acho que deveria. O amor que sinto é tanto e é por isso que não te respeito, por essa louca paixão. Não, não é possessão. Nem ciúme. Nem é problema exclusivo meu. É algo que veio com nosso amor, sabe? Eu era uma pessoa ótima, fui me estragando contigo. Você que me deu essa insegurança, mas foi porque fui maravilhosamente bem tratado. Você me acostumou mal. Mas depois me maltratou. Muito. Repetidas vezes, sem querer e de propósito. É assim mesmo, só que agora já cansou. Fim.

Terça: olhei aquela pequena mariposa e chorei. Bonita e finita. Ainda vivia, mas eu sabia que ela ia morrer.

Eu só, só pensava em tristeza. Tudo era triste. Não havia ânimo pra quase nada. Não conseguia sequer imaginar como veria esse momento no futuro. É mesmo preciso passar por isso? Será que não tem volta? Como é sofrido, meu Deus!

Quarta: eu vou matar esse bicho.

Eu procuro tanto esquecer, mas não tem como. Se esse negócio ainda nem morreu, como que eu vou conseguir superar tudo nesse curto período?

Quinta: nem prestei atenção, deixa eu ir lá conferir. Tá lá. O bichinho ainda não morreu.

Será que não é orgulho? Não há volta mesmo? É definitivo, então?

Sexta: ela ainda tá lá, só mudou um pouquinho a posição. Não é possível. É um lembrete do quanto tudo é recente. É? É por isso que dói tanto assim? Deixa eu ver aqui quanto tempo ela vai viver. Vinte e quatro horas? Como é que pode? Eu vou matar essa coisa. Já não era pra estar mais viva mesmo.

Já chega, tudo termina mesmo. Conforme-se!

Sábado: a minimariposa desapareceu.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Expectativa

Silêncio.

O telefone vibra uma vez.

Silêncio.

Vibra outra.

Quem será? O que será?

Sorri. Imagina. Esquece, não deve ser. Tu precisas mesmo dormir mais, viu? Essa mania de ficar acordando cedo quando não precisa. Fica aí delirando, esperando a possibilidade, torcendo tanto, mandando pensamentos pro universo na esperança de ser atendida, que não se lembra de viver. Nem sabe o que quer e quer tanto. Menos, batista! Menos!

Vibra outra vez. E outra e mais uma.

Ué! Quer saber, vou ver o que é.

O telefone não para.

Mas era só o despertador.