sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Sobre como a marca da vodca virou sinônimo de status social e outras coisas

  Já venho há algum tempo reparando em certos comportamentos que surgem de repente e desencadeiam uma série de ações. Me questiono com certa frequência: por que tanta coisa vira moda do dia pra noite?
  Alguém influente que usa/come/fala sobre algo é seguido por várias pessoas por um período de tempo, que varia conforme a utilidade do modismo e a influência do criador. Aí, criado o hábito, é só esperar ele morrer sufocado por outros ou pela consciência, que tarda, mas não falha (pelo menos nos mais sensatos).
  Nós, seres humanos, que nos julgamos tão individuais e complexos, seguimos o fluxo, qualquer fluxo, e não adianta dizer que não. Funcionamos na base do exemplo desde crianças. Até os mais outsiders são semelhantes entre si.
  Buscamos inspiração em pessoas que admiramos, em ações que sejam confortáveis, em teorias mirabolantes. E, quando nos falta motivo, optamos pelo mais mundano: o preço. Preço, pelo menos nessa redondeza, é o que dita qualidade e consequentemente procura. Quanto mais caro é o produto, mais seus consumidores crescem na escala social.
  Sim, existe a qualidade e pagamos por ela. Sou desse tipo que não reclama da carestia se valer a pena. Mas queria atentar para um tipo "especial".
  Vocês já devem conhecer os metidos-a-qualquer-coisa que simplesmente copiam, ipsis litteris, o hábito alheio e o tomam como se fosse seu só porque transparece riqueza. Importando o produto, importa-se também a pose, que não cai bem em todos. A pose mal colocada é o que denuncia o tipo.
  É comum (juro! É só reparar!) alguém se mascarar de glamour e mostrar falhas, claras, tamanha a superficialidade de suas ações. Tal qual tropeçar de salto alto. Essa gente só sabe de preços e ostentação.
  Exemplo: brasileiros que somos, temos ainda pretensão de sermos entendedores da mais russa das bebidas (não sei se "a mais russa" até porque não sei nada da Rússia), a vodca. Falta só cheirarmos as tampas e fazermos bochecho para mostrar o quanto somos presunçosos.
  Para mim, isso serviu como alarme da demência generalizada que estamos vivendo. Meio a uma balada, caso você se mantenha sóbrio, pode-se notar que as pessoas (se) classificam conforme a vodca que estão bebendo/comprando. Numa escala que varia entre festa com nome estrangeiro e farofada na praia, para mais ou para menos, temos Belvedere, Absolut, Grey Goose, Smirfnoff, Orloff, Natasha e Raiska: a classificação que supera a escala alfabética de A, B, C, D (e sei lá mais quantas).
  Chegamos num ponto que o upgrade é efeito colateral da ressaca e do valor. Cada foto de rótulo no Instagram é como se fosse uma aparição no Domingão do Faustão, traduzindo para o showbiz.
  Subimos um degrau a cada dose e a torcida é para que o preço seja mantido e a queda não seja tão dolorosa. Pertencemos a novas classes sociais, dependendo do preço marcado no cardápio.
  Entre lentes espelhadas e botinhas ortopédicas fashion, a razão do porre é confusa: não se sabe se é por pessoas ou bebidas falsificadas. 
  Assistimos embriagados à nova evolução humana: cabeças mais fracas, fígados mais fortes. Darwin ficaria decepcionado, suponho.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Chicobuarquear outra vez

  Ninguém mais esperava mais nada, até que chegou o dia surpresa. Mais um deles.
  Foi uma micareta. Uma surpresa fora de época que, com insistência, se encaixou no momento presente, assim, milagrosamente, como sempre. Dom do tempo praticamente.
  O calendário é suspenso, colocado em segundo plano em nome do agora. Mas, mesmo não existindo na cabeça, outras marcas denunciam o tempo passado. Aniversários de águas pelo rosto, das mais diversas, não deixam o resto do corpo se deixar levar outra vez tão facilmente.
  Ainda com limitações e cuidados, vejo se aproximar o que era pra ser, o que nunca deveria ter sido, a mistura daquilo que não sei bem se não deveria ter começado ou não deveria ter terminado.
  Acontece e é isso. Só acontecendo dessa vez, deixando, de novo, as coisas acontecerem por si e por ti.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Em setembro, quase nada



A primavera talvez seja a novidade mais certeira.
Acho que é isso. A única novidade.
Ah! Tem também o ano chegando ao fim. O Natal quase aí, o inverno que não tivemos, sair de casa de vestido sem passar frio.
Agora também era pra ser a fase das chuvas-sem-fim devastadoras que acabam com os sapatos dos mais superficiais, mas nem isso.
Setembro está de meia-idade e não pareceu se importar. Só tem passado.
Não tem sido daqueles meses em que não conseguimos fazer nada, nem parece que nunca vai ter fim. Setembro só envelhece a cada dia.
Também não criei nenhuma expectativa.
Longe de mim querer reclamar da normalidade, muito menos dizer que não houve surpresas. Teve disso também.
Fatos ocorreram e provavelmente muitos mais ocorrerão.
Acontece que não aconteci. Só fiquei no sofá da sala vendo nada passar. Setembro de sala de espera por águas (de setembro, que também existem!) que tragam promessa de vida, abrindo outra estação.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

História de Verdade

- E qual a emoção que você quer sentir?
- Ah, umas emoções aí... de história de vida real mesmo.


Vim buscando sensações relevantes em coisas simples. Me colocava no lugar de algum personagem de filme pra vibrar junto com ele na hora do beijo debaixo da chuva. Provava sabores de sorvete que nunca tinha provado, pedia Campari sem saber que tinha um gosto horrível e tomava até a última gota como se estivesse competindo em alguma maratona de drinks. Pode rir, mas eu buscava realização nessas coisas babacas. Buscava aí porque estava um pouquinho cansada de pessoas. Pessoas decepcionam, e ao contrário de um copo de bebida, não podem ser jogadas fora se não são do nosso gosto.
Dava muito trabalho buscar ser surpreendida positivamente, sabe? Aí, depois de tanto querer e ver que surpresa só vem quando a gente não espera, respirei fundo. Peguei a coragem que passeava por aqui e coloquei no bolso.
Foi fazer isso e ver que a vida da gente, a vida de verdade mesmo, é muito mais interessante que qualquer história da ficção. E se não for, é porque os autores não estão fazendo o seu melhor.
Todo mundo tem um pouquinho de autor em si. Tem também um pouco de vilão, de mocinho, de governanta e de mordomo: tudo que uma trama precisa. Mas é muito difícil saber que se tem tanta coisa sem a ajuda de alguém. O outro é necessário pra abrir nossos olhos.
Consegui emoções, mas não sozinha. Não se pode fazer quase nada sozinha, muito menos conquistar grandes emoções. Minha história é uma obra conjunta, feita por muita gente e com diversas ações construídas. Com cenas grandiosas feitas na base da insistência, com uma pitada de coincidências (devo muito ao "de repente"). 
Insisti porque sabia que valeria a pena, pelo menos desconfiava. Coisa boa a gente sempre desconfia que pode acontecer. E não dava pra esperar, entende? As emoções que tiram a gente do chão eram uma necessidade. Precisava ir atrás e precisava conseguir.
Não sei como está saindo, só sei dos capítulos anteriores. Só vou saber do hoje amanhã na hora da leitura, pois só se lê aquilo que foi escrito. É um probleminha de autoria, mas uma absurda vantagem de vida: ter o presente tão cheio de emoções misturadas que mal se pode ver.
Mas o bom de escrever a própria história é que ela só termina quando acaba. Antes do fim, a gente tem que se virar e preencher páginas em branco, linha por linha.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Baú

Nesses tempos andei refletindo sobre a gente, ser humano, ser tão carente de acontecimentos. Qualquer coisa que tenha um pouquinho de valor desperta uma vontade absurda de fotografar com a câmera ou com a memória. A gente escreve, desenha, guarda um papel de bala como se desse para pegar um momento e guardar para si. Isso tudo porque o que nos torna uma espécie superior às outras é nossa capacidade de lembrar em forma de narrativa, reconstruir algo que aconteceu e contar uma história. Essas histórias se tornam ficção depois de contadas, e acaba que não tem muita diferença entre a moral de uma fábula de La Fontaine e um provérbio no final de uma lição de moral dada pela nossa avó.
Enfim, mais uma vez não era sobre isso que queria falar. Para não ficar enrolando sem chegar em lugar nenhum, vou voltar para as lembranças assim, do nada.
Caixas, álbuns, pen drives e outras coisas servem para arquivar nossas emoções. Elas, às vezes, ficam num lugar que a gente mal lembra, empoeiradas, às traças. Geralmente encontramos quando vamos procurar aquele lenço que nem está mais na moda. Quando vemos que ali estão guardados anos de nossas vidas, perdemos uma tarde inteira, vamos noite a dentro tentando costurar tantos retalhos.
Mas tem quem cuide das suas recordações, quem coloque data nas fotografias, envelopes nos cartões-postais e organize as pastas por assuntos. Sou desse tipo aí. Quero preservar as coisas boas de um jeito que eu possa recuperar na hora que quiser e fazer uma reconstituição nível perícia. Gravo cenas inteiras, inspiro bem profundamente para gravar o cheiro, fico muda para que minha voz não interfira na lembrança.
Economizo o figurino para que as marcas não saiam, e assim, a cena seja reencenada perfeitamente. Sério, economizo as roupas que me lembram de alguma coisa. Tem roupas que usamos num dia que foi tão especial, que perdemos a coragem de usá-las de novo e enfraquecer a lembrança. Tem música que assim que começa traz uma lágrima ou um sorrisinho.
No entanto, por mais concretas que sejam as pontes que nos levem ao passado, elas quebram. Inundam, dão pane, se perdem na mudança. E por mais que a gente não tenha mais nada, a lembrança insiste em existir.
A verdade é que os fatos nos escapam na mesma hora em que acontecem e nem adianta tentar pegar. É o "instante-já" da Clarice. Existem no fundo do baú da mente e não há um jeito eficaz de fotografar.
Não é preciso chorar quando um papel se rasga e nem queimar um HD para esquecer. As coisas ainda acontecem lá dentro de nossas cabeças, mesmo que a gente não queira.

sábado, 21 de julho de 2012

Corre!

Sei que é errado começar colocando o carro na frente dos bois, mas se não fosse essa minha mania de querer prever o próximo passo, eu estaria uns três passos atrás.
Nasci pra viver nesse tempo mesmo, no tempo da pressa. Afobadinha desde pequena, ouvia da minha mãe que "véspera de muito é dia de nada". O pior é que ela esteve certa diversas vezes. Em outras, ela não seria capaz de imaginar a maravilha da surpresa.
Quero (ah, eu quero, sim!) uma sucessão de coisas dando certo, uma sequência de coisas realizáveis acontecendo. Pra ontem!
Já que tá tudo assim tão atropelado hoje em dia, vem sem vergonha de ser precoce. Vem rápido, por favor! Vem ligeiro que eu sinto saudade por antecipação. E esse tempo que acabou de passar já foi desperdiçado longe.
Tempo de nada eu quero é depois, se as expectativas (que explodem!) morrerem na praia. Pelo menos elas morrerão afogadas, sem ar e não enterradas pela areia. Aí sim, eu vou precisar de tempo pra colocar tudo em ordem.
Por enquanto, deixo os momentos vazios pra depois. Agora quero deitar no fim de um dia e ver quanta coisa aconteceu.
Mas vem! Não esquece. Vem pra ficar, nem que seja pra ir embora um pouco depois. (Só que se for bom, pode ficar mais um pouquinho, sim?)

domingo, 8 de julho de 2012

Guerê-guerê

  Eu quase me importo. Chego a ter um pouquinho de pena. Tem horas que as lembranças vêm e pesam um bocado, mas aí eu conto até 10 (5, 3... depende) e passa.
  Não sei como isso não acontece com vocês.
  Isso que sou uma das pessoas mais passionais que conheço.
  Sério que vocês ficam remoendo, re-sofrendo tudo outra vez só por desespero? Eu faço isso, sim, mas só pra não correr risco de me enganar outras vezes. Pra minha memória ficar bem atenta do quanto aquilo me foi inútil e saber que fazer de novo é totalmente dispensável.
  Confiem, é bom agir assim. Economiza sofrimento e adia rugas - sim, tenho me importado muito com rugas, porque já consigo enxergá-las.
  O título e a imagem ali embaixo são uma tentativa de representar um gesto: ombrinhos balançando. "Valéria, sua babaca prepotente. Hipócrita. Vai dizer, agora, que nada te atinge?" Tudo me atinge! Se deixasse marcas, daria pra ver no meu corpo a quantidade de decepção. Uma vez atingida, posso chorar e posso nem ligar. Além disso, prefiro superar.
  Superar às vezes dói. Tem quem ache que é coisa de espíritos evoluídos. Eu acho que é economia de tempo.
  "Enquanto eu não encontro" uma saída, dá pra viver todo o resto que se tem pra viver. É mais ou menos como um download: enquanto uma coisa tá sendo processada, outra pode começar ou terminar. (show de metáfora, não? -n) É mais prático, sabe?
  Não aprendi isso sozinha, não. As coisas que vi(vi) e as pessoas que conheço e ouço falar foram que me ensinaram. Devem ter ensinado a vocês também, não é possível! Vocês é que não prestaram atenção.
  Pode fazer escândalo, pode ser o pior do mundo. Vai passar. O que (quem) fica é muito pouco (mas é o que vale a pena).
  Apesar de cansativas, as coisas que causam rugas também fazem a gente crescer.
  É como a velhice: incomoda a marca que deixa no rosto, mas a bendita experiência compensa. Aí é só mudar a cara - tantas as maneiras que existem de rejuvenescer a aparência - e lidar com o que vier com o mesmo rostinho de adolescente. Ninguém diz que você tem tantos anos. Vale até mentir a idade.
  Antes enganar os outros que ser enganado, né?
  Mas enganação é outra história... que pra mim [ombrinhos balançando]...



domingo, 24 de junho de 2012

É...


"Cansou de fazer sempre os mesmos programas
Cansou, então inspire-se na ousadia
E afaste a monotonia da sua semana
A monotonia do seu dia após dia"

  Grande defeito esse meu de enjoar rapidamente das coisas. Me incomoda um pouco, mas me traz mais bem-estar que incômodo, logo, deixo assim mesmo e trato de não mudar. Assim, a novidade sempre me aparece. A agonia do marasmo é pior que a pressa em ajeitar tudo bonitinho pra deixar as coisas bem interessantes antes que entediantes.
  Só não me cansei ainda das coisas que se renovam.
  Inflexibilidade é chato. Flexibilidade demais é falta de personalidade. Eu acho.
  Eu sei lá... gosto mesmo é da minha vida, que nunca é a mesma. Nem nunca vai ser.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

No ônibus

  Final de tarde, fim de expediente. Coincidentemente horário de saída das escolas. Ônibus lotado. Crianças brincam, conversam, e, principalmente, gritam.
  Eis que num dia desses, quase sempre igual, o assunto é namoro. Um menino estava criando uma situação hipotética: ele namoraria há 4 meses. Sua coleguinha interrompe dizendo:
  "Cala a boca, meu filho! Namoro só é quando tem dois, quatro, sete anos... Senão não é namoro." [sic]
  E ele responde, imediatamente, indignado com a ignorância da menina:
  "Ai, nada a ver! Tu não sabe que tem gente que termina antes?!"

  - É, amiguinho, bem antes.
  A menina reproduz uma realidade familiar pra ela, que hoje, pelo menos pra mim, é raríssima. Ao mesmo tempo em que as crianças têm uma sexualidade bem desenvolvida (o que até nos espanta), algumas ainda mantêm certos conceitos na concepção mais romântica dos tempos da vó. Culpa das Capricho, TodaTeen e outras que já ensinam desde cedo passos para seu relacionamento alavancar e durar ad eternum. Papagaia de mãe.
  A ausência de senso comum e a simples observação do menino fez com que sua colocação divergisse. Provavelmente aquele menino só dá selinho quando cai no "verdade ou consequência", mas, ainda assim ele sabe mais sobre relacionamentos do que muita gente +16.
  Enfim, isso aqui é só um relato sobre a efemeridade das coisas. Necessidade de relatar veio ao saber que existem paixões mais rápidas que esse mini-texto, ao mesmo tempo em que existem aquelas que dizem ser eternas, mas que valeriam mais se terminassem logo.
  Relacionamentos apodrecem. Mas por si, não porque tenham data de validade. Estabelecer prazos, nesses casos, é muito perigoso e impreciso. Supor intensidade e sinceridade também não funciona.
  Não se pode medir mais nada. Se é que um dia se pôde.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Relativa eternidade

Coisa que parecia que não ia acabar nunca aquela nossa. Coisa que apareceu sem que ninguém visse e aconchegou, achou seu lugar sozinha. Era tudo o que precisávamos, no exato momento em que aconteceu, sem que ninguém solicitasse providência extraterrestre.
Foi se construindo, parte a parte, com um carinho por dia, de um jeito que desconhecia (desconhecíamos, acho). E, olha, como deu certo!
É mais longe o caminho para casa que o caminho até você. As impossibilidades são sopradas que nem poeira leve e recente. Tudo de longe fica leve e de perto intensifica, embeleza. Não sei como cabem tantas coisas dentro de tão poucas horas.
E você já reparou como tudo conspira a favor? É sol o tempo todo! É chuva quando precisa ser... O melhor é que é surpreendente.
Impossível imaginar o próximo passo. Nós não avançamos em níveis, apenas seguimos, linearmente e sorridentes.
E, outra vez, estamos aqui. Num cenário que não sei se é o melhor - já foram tantos, um mais bonito que o outro e todos com os teus olhos olhando pros meus. 
O sol ilumina absurdamente o dia e dá vontade de sair andando, sem parar, sem te soltar. Me dá vontade de te mostrar tudo da minha vida e só parar quando os pés começarem a doer.
- Vem cá, olha só isso aqui fora!
Eu tento te arrastar pro meu mundo.
- Não vamos sair hoje, não. O dia tá tão bonito aqui dentro.
Concedo. Esforço maior é sair do teu lado.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Não vesti azul, e ainda assim funcionou

Sabe olhar em volta?! Então... Foi por aí que começou.
Andava meio reclamona, tipo velha ranzinza. Sabia que tinha que parar de ser má agradecida com a vida, de ser grosseira e impaciente, mas não sabia o que fazer pra que pudesse mudar.
Nunca fui daquelas com má sorte, mas sempre fui campeã em reclamação.
Queria que tudo acontecesse do meu jeito e ficava realmente chateada se não fosse assim. Fingia que tava tudo bem quando não tinha outra alternativa, mas meu modo de extravasar preferido era choramingar e bater pé até mudar a situação.
Mas, com o tempo e com as vivências, aprendi (acho até que aprendi bastante) a ser mais sensível, no sentido de "perceptível" mesmo. Aí que comecei a olhar ao redor. Fui percebendo o quanto era feliz e como, inacreditavelmente, eu conseguia tudo o que queria. Tudinho. (Confesso que fica mais fácil de acontecer quando você, assim como eu, muda de ideia rapidamente e, geralmente, de acordo com as circunstâncias.)
Mesmo de mau-humor (mentira, não tenho mau-humores) consegui desenvolver uma aptidão (?) de reconhecer aquilo que já foi conquistado e o que precisa de cultivo, e isso me ajudou bastante a mudar minha sorte.
É isso. Um depoimento de felicidade a vocês. Pensei nisso como um achado que merecia ser dividido.
Fácil piorar o que já está ruim. Mas não chega a ser difícil fingir que não viu as falhas. É como se fosse ver um porta-retrato bonito no meio da mesa empoeirada. É compensador. Revigorante.
Uma sensação tão boa quanto encontrar vestígios de purpurina na Quarta-Feira de Cinzas.


domingo, 6 de maio de 2012

Oi.
Só te escrevo porque estou tomada de pessimismo (que, é claro, eu não queria que existisse).
Parece que eu tenho flutuado, sabe?! Sem tocar os pés no chão em nenhuma hora do dia.
Toda hora tenho sonhado e, quando paro de sonhar, vem a razão me dizer que não vai dar certo. Porque até agora nada terminou certo e é certo que há fim em tudo.
Fico confusa porque você faz as coisas estarem certas, ficarem bem. Fica tudo bem quando eu fico com você. Mas eu tenho uma mania muito particular de complicar tudo, de colocar obstáculos porque tenho medo do que pode acontecer. Tenho medo de não suportar tanta felicidade sem data de validade determinada.
E você faz tanto, fala tanto. É lindo e me faz andar pela imaginação. Me faz achar que qualquer canção se encaixa, que toda historinha de amor seja parecida.
É uma pena que a gente não viva de poesia.
E é por isso mesmo que tem que terminar. Precisa.
Não é justo construir tanta beleza pra ser jogada fora mais tarde. Preciso me defender da ofensa de parar de ser amada.
Tem que acabar mesmo. Tudo. Até o pensamento.
Não adianta não me esquecer, a lembrança não é suficiente. Tem que ser mais. Tem que me amar, todos os dias, como se o dia seguinte não fosse chegar. Como se nada pudesse atrapalhar. Se não for assim, não é e não será.
Esse jeito intenso, complexo, afobado, sem ar, sem pausa, exageradamente dependente vai te afastar sem precisar de drama. Você também vai se cansar de mim... Assim como todos já fizeram. Como alguns outros ainda vão fazer.
Você me entende, né?! Eu só estou antecipando o fim antes que o tempo faça isso por nós.

Queria confiar mais, mas não consigo.

Na esperança de ser feliz com esse meu jeito todo errado e com amor que ainda pulsa (mas já vai parar),

(nome).

sábado, 28 de abril de 2012

Tudo compensa

  Se existe uma coisa que, com certeza, vale a pena é fazer amigos. O processo é divertido e os resultados são bons, de curto a longo prazo. Ninguém nunca se arrependeu e quem nunca experimentou vive triste.
  Tem gente que reclama, diz que fez tudo certo, mas no final das contas se decepcionou. Isso acontece porque pode ser que a gente se engane sobre certas pessoas que se aproximam de nós. Esse tipo de gente consegue fingir até a gente chamá-los de amigos, mas depois que descobrimos seu real interesse - aqui cabe uma diversidade deles: dinheiro, benefícios, crueldade... -  deixamos de considerá-los assim.
  Vou tentar explicar quem a gente pode chamar de amigos, de verdade:
 Os que merecem esse tipo de nomeação são espontâneos, nos proporcionam conversas leves e longas, sobre absolutamente nada.
  São folgados e se metem nas nossas vidas, mesmo quando a gente não pede. Acham que devemos ouvi-los, pra que a gente não se machuque. Acham que devemos ouvi-los pra poupar deles horas de consolo e apoio moral.
  Os tipos são variados: alguns a gente gosta logo de cara, outros temos que desgostar um pouco até conseguir engolir.
  Eles, os amigos, sempre se importam com o que a gente faz. Dão força quando a gente precisa, ou jogam na cara quando nem adianta tentar.
  Amigos, mesmo, são aqueles que confiam em ti quando até tu já desistiu.
  Amigos são os que sorriem com/ de/ para você. E a maior felicidade que pode existir é ser capaz de sorrir com a alegria dos outros.

  Com esses aí, tudo vale a pena. Por esses aí, tu compensa. Tudo, tudo, tudo.

domingo, 15 de abril de 2012

Levitação

  Uma vez, ouvi num filme a seguinte frase dita por um carinha que levava um pé na bunda da personagem principal: "você quer que alguém te tire do chão, mas está mais interessada em ser tirada do chão do que em quem vai tirar você dali". Meio que rolou um processo catártico.
  Tenho pensado muito no que seria um "querer", principalmente por não saber o que quero. Não é só uma reflexão, mas também pesquisa.
  Pesquisa.
  Pesquisar "qual o sentimento que mais estou interessada no momento" foi nomeado o ponto mais ridículo de racionalidade em que cheguei.
  Triste é chegar nesse ponto, logo eu. A sempre sonhadora, sempre espontânea, sempre totalmente a favor da sinceridade. Pff! Tudo evaporado.
  Tenho encontrado a felicidade cheia de medidas, com a armadura de um caminho traçado. Mas que não por isso deixa de ser felicidade. Só é felicidade não-inconsequente.
  A busca ainda é - sempre foi - voar, sair do chão, sair do dizível, do apreensível. A diferença é que agora é consciente e racional.
  Continuo querendo muita coisa (porque conheço tanta coisa que acho pouco "qualquer coisa" menor que muito) simples, mas difícil de encontrar. Quando é fácil de encontrar, é difícil de segurar. Ainda quero flutuar. Flutuar e ficar. Flutuar sem temer cair. Sem cair com a cara no chão, empurrada. Porque quando o voo vale a pena, a queda (inevitável) dói quase nada.


sábado, 7 de abril de 2012

Transformável

Cada sopro de vento transforma a areia da praia
Cada palavra ouvida transforma nossa cara.
O tempo foge pelas ruas e vai atrás do sol,
e dá a volta pra voltar com a noite
e continuar passando.

Vivemos, enfim. 
Tudo vive, tudo está e muito pouco é.
Promessas não são, apenas servem. Mas as palavras são e simultaneamente estão, servem e, logo após serem ditas, vivem. Por isso precisam de algum lugar, porque vivem. Geralmente vivem na cabeça de quem ouve. Porque quem diz se esquece.

Palavras olvidas.
Palavras ou vidas.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Enquanto isso, no Brasil, o ano ainda não começou de verdade...

"No Carnaval todo mundo pode, todo mundo pode, todo mundo pode, pode tudo!"


 Em meio aos que amam e odeiam, o Carnaval (brasileiro) já está aí desde o dia seguinte ao Natal.
 Em alguns lugares mais dependentes economicamente desta época, começou há tempos, e em outros locais, hoje é a grande expectativa para o maior feriado do ano.
 Seguindo o fluxo padrão, já temos comemorações em mente, excessos programados e uma expectativa que chega a se confundir com fé. Fé que nesse ano vai ser melhor, que nesse ano não passaremos mal de tanto beber. Fé para não confundirmos Zezés e Marias-Sapatão e para que na quarta-feira de cinzas seja tudo alegria - e uma ressaca leve.
  Entre as festas de rua e os camarotes regados a whisky e champanhe, impera a ação de festejar a vida por si só. Estamos embebedados de um sorriso-sem-razão-exata, que nos ganha, nos alegra, nos oferece. Paira no ar a falsa impressão de que somos todos iguais, e, portanto, todos merecem celebrar. Falsos também são os brilhos, a eterna disposição, as fantasias, as máscaras, as conquistas a todo custo. Falsos, porém visíveis. Uma falsidade sincera.
  Carnaval é, para mim, um momento de facilidade. Até o trabalho de muito tempo e minuciosidade fica  (ou parece) fácil na hora do espetáculo. Sempre tem quem leve realmente à sério, mas acho que não é carnavalesco agir assim. Carnavalesco mesmo é nem se preocupar. É só sair por aí.
  Afinal, às 14h de quarta-feira, estaremos todos devidamente reposicionados em nossos habitats, o verão quase chega ao fim e a temporada de moralidade (mascarada fora de época) é inaugurada. 

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Sobre nada

Dormi pouco, depois tive a sensação de ter dormido demais.
Cansei muito fácil, passei calor.
Quase me animei e desisti.
Deu vontade de ir a lugar nenhum, olhar pro nada e de sair daqui;
Equilibrei um lápis entre os dedos, comi bolacha separando o recheio, copos d'água, idas ao banheiro desnecessárias.
Tento me concentrar, não consigo. Bato recordes em coisas sem sentido.
Cara de cu.