quarta-feira, 19 de junho de 2013

O que vejo sentada no meu sofá

Vejo gente indo pra rua, obedecendo, participando porque sim e condenando pra manter o costume.
Me comovo, mas fico confusa. Fico com o pé atrás porque não sei se amanhã vai ser maior ou se todo mundo vai voltar a dormir.
Fora disso, vejo gente revoltada com tanta coisa distorcida e vejo gente revoltada porque... por que mesmo?
O gigante acordou em passeata mas sei lá quantos caminhavam sonâmbulos.
Vejo gente sonâmbula protestando contra a corrupção com a cartolina roubada da repartição.
Não que não possam haver contradições... Mas tantas assim me assustam.

Vejo fazerem de uma luta anti-Copa (?) uma outra espécie de campeonato com guache verde e amarela, bandeira nos ombros e hino cantado às palmas.
Tanto quanto na Copa, ricos e pobres em uma só voz. Tanto quanto na Copa, todo mundo tem orgulho de ser brasileiro. Tanto quanto na Copa, parece que esse sentimento vai durar até a multidão se dissolver.

No entanto, meu campo de visão é restrito. Os fatos ainda passam por muitos filtros até eu tomar conhecimento.
Mas, por enquanto, vejo assim.

domingo, 5 de maio de 2013

Não deveria chover

Tenta-se evitar o pensamento, mas como seres humanos super-racionais conseguem ficar um segundo sem pensar?
É impossível.
Quanto mais se tenta, mais se pensa.
O pensamento é o incriminado porque não dá pra culparmos a chuva. Coitada, apenas chove. Cai gota a gota o dia inteiro.

Gota-pensa, gota-evita, gota-tenta-esquecer-mas-não-consegue, gota-tenta-superar-mas-não-supera.

Deveria ser expressamente proibido chover nos dias pensativos.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Aniversário



  Repetidamente sinto como se o tempo tivesse passado voando que eu nem visse que mais um ano já foi. É uma sensação periódica, no entanto lido com ela sempre com o mesmo frio na barriga.
  Reveillon é parecido, mas no aniversário é que vem aquela chuva de perguntas sobre o que faremos e quem seremos de idade nova.
  Olha só o tempo que passou! 
  Os dezoito anos são os melhores. 
  Aos vinte é que tomamos consciência de quem queremos ser. 
  Vinte e cinco é a idade ideal entre corpo e mente. Será?
  Esses dias que antecedem minha data querida são cheios de perguntas.
  Também sinto certa monotonia pela reprise de todo o ritual: a reunião de pessoas, a solidão em dada hora do dia, os telefonemas com a vó cantando parabéns pra você e você sem saber mais como agradecer.
  Agradecemos porque somos parabenizados por viver. Só por isso.
  E comemoramos nem que seja a sobrevivência, que nos dias de hoje não está nada fácil.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Desperdício pra quem?

  Em tempos complicados de preservação, reutilizar e fazer valer cada gota são ordem.
  Cadê o meu direito de dar errado? 
  Era bom quando dava para amassar aquela folha de papel só para passar a limpo. Era bom poder jogar fora coisas que não serviam mais, sem tentar ajustar ou reposicionar. Mas gente que faz isso não é mais bem-vinda. Só há espaço para cidadãos do bem.
  Estão sendo tomadas diversas atitudes para a preservação da humanidade tamanha prepotência e burrice que temos. Primeiro fazemos tudo para deixar o mundo confortavelmente habitável, depois nos contentamos com reduções e cortes. Depois de termos feito tanta besteira, achamos que nunca é tarde para corrigir. 
  Felizes, devemos nos ensaboar de chuveiro desligado, maneirar na comida que colocamos no prato, pensar bem antes de comprar aquela roupa colorida. Felizes, ouviram? Sorrindo para a foto.
  Não cometam o erro de perder um segundo sequer sem ter recuperado um relacionamento, feito alguém feliz, perdido calorias e aberto um negócio. O mundo gira num ritmo econômico-sócio-emocional acelerado, devemos acompanhar. Tudo isso em harmonia com a natureza. Vivendo assim vamos viver mais e melhor! Não dá para desperdiçar pessoas, tempo, energia, dinheiro, plástico...
  Essa é a moda da vez. Vamos ver até quando isso valerá.
  Evitar desperdícios é atrativo, mas tem desvantagens. Ao economizar passos, corre-se o risco de viver de redondeza. Para quem atrai ser imóvel, é bom. Para quem não suporta o mesmo lugar, é ruim. Depende da necessidade de cada um. Depende do que é necessário. O bem comum é muito complicado.  
  Gente é individual e subjetiva. Pensar em qualquer coisa comum é extremo. Definir ideais comunitários chega a ser utópico, mas é um passo para efetivar objetivos. Só é importante lembrar eles até dar cabo à tarefa. Acontece que gente também é muito maleável, esquecida e preguiçosa. Além de adorar uma moda!
  Se a moda é repensar, vamos! Vamos repensar o consumo, inclusive o de ideias prontas e fragmentadas que daqui a pouco a moda é outra. 
  Mas sabe aquele casaco clássico, preto, que sempre está em alta? É como bom senso: combina com tudo. 

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Quarta (depois de Terça)


Do bailinho ao trio elétrico o som foi abaixando. O movimento nos bares já diminuiu. 
É sempre assim o fim do Carnaval.
Depois de quatro dias de festa, até o dia seguinte pede pausa de tanto brilho e cor. 

Fico feliz por dessa vez ter ouvido menos reclamação, menos "enquanto o povo pula, os corruptos estão livres pra fazer a festa". Sério, gente chata, tem 361 dias pra cuidar da vida durante o ano. Dá tempo. Não me venha tirar o direito de fingir que tá tudo bem.

Às vezes rola uma cara emburrada no meio da folia, mas com o dedinho levantado, festivo.
Problemas sempre existem e não vão parar por causa do Carnaval. Quem se dispõe a sorrir, pisoteia neles, sufoca com confete, afoga com cerveja.
Ainda bem que não precisei me preocupar com nada sério e pude optar pela ilusão da música animada, da desordem no meio das ruas, da maquiagem. Vezes quatro.

A necessidade de exagerar na comemoração vem de antes, muito antes de mil novecentos e cinquenta e alguma coisa. Mesmo quando falta ânimo, há a desculpa: é Carnaval!
Parece imposição, mas se escolhe viver essa alegria fugaz (obrigada pelas palavras poéticas, Chico Buarque!). Não deixo passar. Comemoro, nem que seja como "tributo".
Aproveito a lisonjeira oportunidade de ver o comércio fechando pro bloco passar e vou.
Vou, feliz, vendo as pessoas cansadas insistindo em pular sem querer desperdiçar um dia sequer dos quatro dias (pra mais) de festa. 
Vejo cada paralelepípedo da velha cidade se arrepiar ao lembrar que lá passaram sambas imortais. Também me arrepio e canto os mesmos sambas. Refaço um percurso ancestral que certamente se repetirá, como aconteceu até agora.
Carnaval cíclico, repetidamente.



sábado, 2 de fevereiro de 2013

Nada a ver - chorumelas sobre ser professora estagiária


Apesar de viver mais de onze anos frequentando uma escola até chegar à universidade, quando chega o momento de ser professor, surge um frio na barriga. A inversão de papéis, de aluno para professor, é permeada por insegurança e entusiasmo. O período passado na faculdade é tão distante da realidade escolar que faz com que a volta à escola, ainda mais como professora, seja estranha para mim. “A escola” e “os alunos” foram tomados de modo tão abstrato na graduação que fez com que eu me distanciasse de algo que era corriqueiro, que fazia parte do meu cotidiano.
No curso de licenciatura em português da UFSC, começamos a tocar no assunto “ensino” apenas a partir da quinta fase. As disciplinas, em geral, não são suficientes para nos reaproximar do contexto escolar.
Estudamos algumas teorias, porém são reservadas poucas horas para problematizá-las e visualizá-las na prática. Mesmo com uma carga “pesada” de leitura, não temos tempo reservado para dialogar com os textos. São raras as oportunidades de propor questionamentos a outros profissionais da educação, a textos, a autores. Somos, enquanto alunos, acostumados a restringir nossa visão à visão do professor.
O professor “filtra” aquilo que devemos conhecer, produzir e reproduzir. Assim, acabamos repetindo um comportamento automaticamente. É criado em nós um comodismo que nos contenta com a amostra que temos na graduação. Ao invés de abrir as portas para um mundo de opiniões e experiências, vivemos dentro da “casinha” da universidade, desacostumados com diferenças e surpresas.
Por isso é essencial cursar o estágio de docência antes de recebermos um diploma. Ideal seria que tivéssemos mais oportunidades de inserção em sala de aula, mesmo em momentos apenas de observação, porque precisamos supor situações reais para aplicarmos o que aprendemos. Se já é complexo planejar atividades a uma turma específica e real, é mais difícil ainda abstrair e imaginar um grupo de pessoas “possível”. Não existem pessoas “possíveis” no mundo, existem pessoas reais
Duas realidades são conhecidas com o estágio: professores estagiários conhecem a escola e a escola conhece o que acontece na universidade.
O intercâmbio entre ambiente de pesquisa e de atuação é produtivo, instigador. A instituição escolar ganha e os alunos/professores estagiários crescem, expandem a visão. O crescimento é pessoal também, se considerarmos que, ao lidar com pessoas, o trabalho ultrapassa a mecanicidade.

Algo que incomodava no percurso da graduação era não serem ditas “fórmulas” de como lidar, nem como depoimento. Como aluna, me sentia perdida, sem ter para onde recorrer em caso de emergência. Mas depois de ser professora entendi, verdadeiramente, que não há como um modo de fazer funcionar em toda situação. Emergências podem surgir, mas vêm sem aviso e dependem de muitos fatores para serem resolvidas, incluindo reflexão e amadurecimento de ideias. Talvez por isso meu julgamento sobre a forma de como cursos e manuais são abordados seja um pouco “tendencioso”.
Não funcionam as fórmulas mágicas, os planos perfeitos. Nenhum livro didático, nenhum guru do conhecimento parece ser suficiente na hora do apavoro. Nenhuma dessas soluções encantadas conhecem de verdade o lugar onde são aplicadas. Por isso o diálogo com diversas pessoas – inclusive com alunos – em variadas situações é essencial. Não podemos contar com o suporte apenas de teorias que não conhecem o terreno de cada escola.
Os “teóricos” abstraem extremamente a ciência “criada em laboratório” para que se encaixe em contextos distintos. As teorias compõem as diretrizes e os manuais dos professores das escolas, mas os professores não conhecem de modo pleno as teorias seguidas. Como estagiária, a obrigação carregada é de conhecer as teorias, conhecer a escola e adequar uma a outra, num movimento “redondo”, planejado para que ocorra sem falhas.
Entretanto, mesmo sendo a experiência mais valiosa da graduação, o estágio continua nos moldando. Por acaso (e por sorte), com orientação e escola abertas e colaborativas, foi gratificante todo o  meu período de estágio, o que não excluiu algumas formalidades e adequações.
Na elaboração dos planos de aula e dos projetos de docência e extraclasse foi exigido rigor a uma corrente teórica, como se na vida real as idéias não pudessem conviver e até se completarem. Ao contrário, o tempo todo convergem, divergem, se refazem.
Claro que é imprescindível a formação acadêmica e o traço de um caminho coerente, mas não podemos abrir mão da sensibilidade do professor, ser humano que lida com outros seres humanos.
Como estagiários, nossas funções se restringem a dar continuidade a algo em andamento. Devemos nos moldar.
Devemos. No entanto, o que fiz(emos) foi diferente.
Os alunos, as professoras, o “eu” que volta e meia aparece puro na frente da turma são mais fortes que o passo a passo dos planos. Olhando, observando com disposição para aprender e construir conhecimento faz do professor amigo, conselheiro, facilitador e orientador, que alcança seus objetivos traçados (lapidados!) mesmo que por outros caminhos e descobre objetivos atingidos que jamais foram imaginados. Levar a profissão de um modo exageradamente emocional é desaconselhável, mas, pelo menos para mim, não há como criar uma barreira exclusivamente profissional quando se é professor.
Mas quem diz isso sou eu. Cada um sabe de si e só vivendo para aprender.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

O domingo do Wesley

Desde o comecinho da manhã - comecinho pra ele, porque acordou foi com a musiquinha do Esporte Espetacular - Wesley se preparou pra noite de domingo. 
Só faltava o pagode à noite pra completar o último dia do final de semana ensolarado, devidamente aproveitado.
O carro estava ok, a roupa separada. Logo que acordou, se certificou se o nome estava na lista, porque deus o livre pagar o preço salgado que sobe com a temporada. (Por aqui é assim no verão: na tentativa de tirar dinheiro dos gringos, o preço astronômico das coisas é sofrido e pago também por quem não está de férias.) Estava lá, certinho. Só precisava chegar cedo, mas Wesley nem ligava.
Tinha pique pra correr o dia todo e ainda sambar. Chegar cedo era o de menos.
Sabia que teria que olhar pra muita gente de nariz empinado fazendo cara feia quando o olhasse do pé à ponta, fazer o quê? Fazia parte do ambiente aquela gente devidamente uniformizada de salto alto e camiseta de marca (de procedência duvidosa).
Infelizmente, qualidade ainda é vinculada à preço e pra aproveitar uma boa noite, ouvindo uma boa música, teria que dividir o espaço que era da elite, pagando como se fosse da elite. Por isso mesmo ele queria aproveitar.
Se perfumou e tomou seu rumo.
Dançou.
Dançou até aquela música ambiente que toca antes do show começar.
Dançou com propriedade de quem nasceu sabendo, sem nenhum movimento quadrado de quem aprende pra se mostrar.
Não foi encher a cara, muito menos chegar em menininha interesseira. Também não tinha paciência pra esperar que elas ficassem bêbadas pra poder chegar. Foi celebrar o fim de semana e só. Fez do seu jeito, animado e às vezes de olhos fechados pra prestar mais atenção na música.
Enquanto tinha gente se matando por um pedaço de papel que dava direito a subir um degrau e ficar do lado de lá da muretinha, Wesley tinha a pista, no final da noite, quase toda pra si. Tava longe de se parecer  com aquele cara de camisa polo cor-de-rosa que precisava levar alguém (qualquer) pra casa pra fazer valer o que gastou.
Feliz daquele que se diverte porque quer e não porque pagou! 
Indo embora, ao passar no caixa, pagou por duas cervejas mais  o valor da entrada. À vista. Melhor que passar garrafa de champanhe no crédito. Carnê é pra comprar eletrodoméstico, ora essa!, mesmo disfarçado de cartão.
Pegou seu carro, rachou a gasolina com o pessoal e comprou um cachorro-quente pro flanelinha.
Deitou sua cabeça no travesseiro, exausto.
Coisa boa era se sentir cansado de tanto viver.

domingo, 13 de janeiro de 2013

Sol brilhar basta

   No fim de um dia meio agitado ou depois de uma noite com pesadelo, ver o sol é reconfortante.
  Não tem porquê economizar sorriso quando o dia insiste em ficar bonito. Não dá pra ficar braba, não tem como.
  Cara feia, nem com muita fome quando o dia é ensolarado.
  Precisa de muita chuva pra se esquecer do brilho do sol e precisa daqueles de rachar coco pra querer uma chuvinha, pra refrescar.
  Bico, cara amarrada, tristeza no olhar e ruga na testa: tudo sai na luz do sol, é só se deixar alegrar.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Ano Novo

 
Que tipo de preocupação insiste em existir no primeiro dia do ano?
  Até chegar a meia-noite do dia 31 de dezembro, todo mundo fica meio exagerado: profundamente tranquilo ou totalmente ansioso. Pra mim, todo mundo fica com uma ruguinha de preocupação, qualquer que seja o motivo. Réveillon mais ou menos é só mais um dia comum.
  Temos preocupação para que a felicidade não resolva ir embora, e mais, que ela traga suas vizinhas e venham logo morar em nossa rua.
  Há também a preocupação em fazer tudo valer a pena. Nada pode ser desperdiçado, toda experiência tem que ser válida. Somos loucos querendo fazer de tudo memorável, mas, inevitavelmente, vem uma memória mais valiosa e tira o lugar das festas frustradas. Arrumamos guarda-roupa, doamos coisas, somos outros limpos e melhores. Que bonito é ver coisas no começo!
  O início do ano deve ser brilhante. Nem pensar em tapear as falhas, elas devem ser imediatamente corrigidas ou esquecidas de vez. Enfim, o erro não tem lugar num ano-novo. O novo é só acerto.
  Não que não tenhamos direito de errar. Temos como direito, não como dever. Erramos sem querer, mas temos cuidado para não mancharmos o ano-novo tão branquinho.
 Pular ondas, não economizar e soltar fogos para que o barulho espante o mal fazem parte do ritual comum. Para celebrar, agradecer, prometer (principalmente).
  Lá vem um ano no começo. Ainda restam mais de 300 dias para correr atrás do que se quer. Ainda há brilho no olhar, ainda lembramos do barulho dos fogos e vamos continuar assim até chegar agosto, numa segunda-feira temida, implorando por outro ano, porque esse já tem que terminar.