domingo, 24 de julho de 2011

Quando fecha o olho e não quer dormir

E foi depois de dois dias inteiros que Luísa tomou uma decisão. Dois dias pensando no que poderia ser melhor para agora e para depois e se importando somente com a principal pessoa de sua vida: ela mesma, já que estava em sua fase mais egocêntrica.
Chegou um momento em que ela tinha decidido fazer um levantamento das coisas mais relevantes que tinha vivido até ali para fazer planos sobre o futuro. Como será sua vida daqui a 14 anos? Será que com 30 vai continuar morando no mesmo lugar, tendo os mesmos melhores amigos?
Nunca tinha parado para pensar nisso, o que é totalmente natural, já que é tão nova. Era um dia depois do outro e a preocupação mais a longo prazo era o fim do bimestre na escola. E foi só começar a pensar para que o susto chegasse.
Depois de dois dias relembrando, reconsiderando e pensando em diversas alternativas sobre as coisas que já tinham passado, minutos antes de dormir, Luísa deu um suspiro aliviada por ter percebido que essa retrospectiva toda serviu para que ela visse que mesmo não tendo plantado nenhuma árvore, escrito nenhum livro e tido nenhum filho, a vida dela é algo suficientemente relevante para muita gente ao seu redor. E extremamente relevante pra ela mesma.
Conflitos juvenis que potencializavam problemas minúsculos, que a gente só consegue ver o tamanho real deles depois de terem passado, são naturais. O que não é natural é ficar perdendo tempo e ganhando rugas com problemas que cedo ou tarde irão se dissolver.
Depois de pensar e pensar, ela notou que uma possível solução seria "superficializar". Tirar o peso dos conflitos, dos problemas. Percebeu que conversar alivia, porque mesmo quando não resolve, desabafa.
Taí! Aprendeu alguma coisa por si, mesmo que tão nova.
Mas ela, curiosa, inquieta, já iluminada pela compreensão, tentou imaginar coisas muito maiores, coisas muito mais complexas e misteriosas, que são todas as coisas que ainda não aconteceram. Se esforçou, desenhou caminhos diferentes, tanto que até doeu a cabeça.
Impossível passar da inferência em relação ao futuro. Nossa imaginação não abarca tudo o que pode acontecer.
A sua grande decisão já havia sido revelada, não tinha porquê perder mais tempo de sono. Já havia notado que deveria ter orgulho de si e das coisas que havia feito, pois tudo, até as inconsequências e infantilidades, fez a Luísa daquela noite.
Mesmo curiosa pelo futuro e ansiosa por planos, viu que era melhor parar por ali.
Daí ela preferiu ficar paradinha. Quieta no seu lugar.
Puxou o lençol um pouco para cima e dormiu.


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